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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre a reintegração de posse

Agora que a poeira abaixou, resolvi escrever o que penso a respeito da ocupação e reintegração de posse da propriedade da prefeitura de Aracruz, destinada a construção de casas populares.
Resolvi esperar, não só para analisar com maior frieza, mas para que todos os barrenses também pudessem analisar sob diferentes pontos de vista, principalmente após a repercussão dos fatos, e assim, digerir melhor meus pensamentos. Estou ciente de que não vou agradar a muitos, mas não posso medrar ante a possibilidade de ser, mais uma vez, taxado de inimigo da comunidade, quando vejo que meus principais possíveis detratores se valem de argumentos e posicionamentos enganosos.
Mais uma vez Barra do Riacho se tornou motivo de destaque nacional, e infelizmente, destaque negativo.
Apesar da quantidade dos empreendimentos, tanto governamentais quanto privados, que estão ou irão se instalar nesta comunidade continuamos vendo o descaso do poder público municipal (e estadual, vide Escola Caboclo Bernardo) com o povo barrense. Desta vez, vimos estarrecidos o fim que levou a invasão do terreno da prefeitura municipal destinado (segundo discursos) a construção de uma escola de tempo integral, creche e moradias no projeto “minha casa, minha vida”.
Mas, apesar do reconhecido descaso que nos incomoda, quer seja na área habitacional, quer na saúde, segurança, infra-estrutura e outras, não poderia eu ficar calado diante de um outro problema que vem dividindo a comunidade.
Refiro-me ao oportunismo de algumas pessoas, que a pretexto de lutar pelos direitos e garantias das pessoas e da comunidade, se aproveitam do descaso público para insuflar e expor pessoas carentes que, devido a falta de instrução (alguns, por que não querem mesmo enxergar), acabam se transformando em massa de manobra. Esses oportunistas, que para cá vieram procurando oportunidades de empregos, como tantos outros, vislumbram na verdade uma exposição midiática para alcançar o objetivo de alçar carreira política, tão somente. Estão na verdade pensando no próprio bolso e são prontamente aceitos por partidos políticos que se colocam como arautos da moralidade pública, mas que de igual forma estão apenas almejando o poder pelo poder.
A área pública invadida, portanto de todos nós, e todos nós não quer dizer ninguém, essas pessoas expuseram que não tem o menor respeito pelo patrimônio público e nem mesmo pela propriedade privada, a ponto de, já antes de serem removidos do local ameaçavam colocar à baixo a propriedade da vereadora legitimamente eleita pelo voto popular, em represália a ação da Justiça.
A desculpa de que o executivo municipal não está atendendo aos interesses da comunidade não é motivo para vilipendiar e se apropriar do patrimônio que é de todos, para benefício de todos. Invadir patrimônio público é uma demonstração de insubmissão às autoridades governamentais, comportamento radicalmente repudiado na Bíblia, a palavra de Deus (Segundo interpreto de Romanos 13. 1-7 e Tito 3.1). E o pior é que, dentre os muitos invasores e alguns incentivadores, vários se diziam cristãos (inclusive pastores), demonstrando um abismo entre o que professam e o que vivem. Mas essa insubmissão não me assusta, pois é conseqüência da mentalidade neo-liberal de nosso tempo: o relativismo da verdade.
Enojou-me como pessoas oportunistas se apropriaram do discurso de vitimização adotado por pessoas inescrupulosas. Parece que tentam tornar verdadeiro aquele adágio que diz que uma mentira contada mil vezes torna-se verdade. Pessoas que antes da ação da Justiça, confidenciavam que estavam jogando com a sorte, ou seja, sabiam que era ilegal, mas se desse certo, sairiam ganhando. E, pelo menos comigo, foram vários, inclusive pessoas que já tem casas, alugadas até. Se isso não é debilidade de caráter, o que é então?
Se os “líderes” do movimento estivessem realmente interessados no bem-estar dos moradores de Barra do Riacho desfavorecidos economicamente (e muitos realmente precisam desesperadamente da assistência governamental), não teriam incitado para que a invasão se “loteasse” com pessoas de outros Estados e regiões, a ponto destes somarem quase metade das pessoas, criando uma relação desigual com os verdadeiros moradores de Barra do Riacho. Notícias davam conta de que havia inclusive lista de espera para ocupação dos locais. Não quero simplesmente repudiar a presença de pessoas de outras regiões, até porque sou sabedor de que essas pessoas estão tão somente procurando melhores meios de sobrevivência e portanto, estão inseridas num contexto social muito maior.
Se a “liderança”estivesse de fato preocupados com o bem-estar dos moradores, porque cobrar taxas para “gato de energia”, conforme comentários das pessoas. A questão é: para que e para quem essa taxa? Para a Escelsa é que não era.
Por que será que a entrada na invasão só se dava com autorização dos “líderes”, inclusive de ambulâncias?
Por que será que os “líderes” não avisaram as pessoas que a Justiça iria cumprir a reintegração de posse naquela quarta-feira? E não me venham dizer que não sabiam, pois há testemunhas da comunidade que viram um dos “líderes”, senão o “líder” maior, receber a intimação para saída em 48 horas dos moradores.
Com que legitimidade e com quais critérios fizeram a divisão dos lotes. Quem lhes deu legitimidade para colocar nomes nas ruas (algumas ruas tinham os nomes dos “líderes”) e números nas casas. Por que os “líderes” da invasão não tornam públicos o controle que tinham sobre a quantidade de moradores e quem eram?
Pra mim, tudo isso é a prova de que se instalou na invasão um poder paralelo, comparado às milícias do Rio de Janeiro.
E que dizer das ameaças feitas a várias pessoas que tiveram a coragem de se manifestar contrárias a forma como tudo se deu. Esses “líderes” se dizem democráticos, mas não sabem sequer respeitar a opinião contrária, numa clara afronta aos princípios de nossa Constituição Federal que assegura a todos o direito à crítica racional e liberdade intelectual.
Enfureceu-me a imprensa sensacionalista e inescrupulosa que se preocupa em vender uma imagem que não reflete a realidade por trás dos acontecimentos. Imprensa imparcial é aquela que checa os fatos e os dois lados da questão. Se houvesse compromisso com a verdade teriam pelo menos procurado se aprofundar na questão e expor que a reintegração já estava ordenada desde novembro do ano passado. Que a “liderança” fora avisada com antecedência, que muitos que ali estavam são pessoas de outros estados e que estão na Barra do Riacho atrás de oportunidades de empregos nos investimentos incentivados pelo governo estadual e municipal, portanto, como já disse, parte de um problema social muito maior.
Entristeceu-me, por fim, a ação da polícia militar, a qual teve todo o tempo necessário para mediar o conflito, em ação pró-ativa, visando o restabelecimento da legalidade e sensibilizando-se com a necessidade das pessoas realmente carentes que se vêem à margem da tutela pública. Uma polícia interativa e cidadã, deve estar a serviço de todos, até mesmo contra os administradores públicos em posse de mandatos, se estes não cumprem com seus papéis constitucionais de zelo e respeito à dignidade das pessoas, sejam elas quais e de onde forem.

Um comentário:

  1. Temos sempre que termos a coragem de nos manifestar e respeitarmos todas opiniões, para que a verdade prevaleça para sempre, já que uma pessoa pode ser enganada a outra um dia, uma semana, um mês, mas nunca a vida toda!

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