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quarta-feira, 15 de junho de 2011

A culpa



O ser humano nunca conseguiu lidar muito bem com o problema da responsabilização. Pouquíssimas pessoas conseguem assumir seus erros, mesmo os cometidos sem dolo como os cometidos no trânsito, que é uma tragédia nacional.
O problema da responsabilização é o problema da culpa. Desde Adão e Eva, o ser humano sempre adotou o mecanismo da negação para se livrar da responsabilidade pelos seus atos.
Ao ser inquirido sobre sua falta, Adão não titubeou em pôr a culpa em sua companheira, sem esquecer-se de compartilhar a culpa com o próprio Criador ao lembrá-Lo que a mulher fora obra Dele. Por sua vez, Eva assumiu a responsabilidade não sem antes atribuir a culpa a serpente, que é no imaginário de muitas pessoas, sempre a maior e grande culpada.
Assim, de negação a negação, coube ao Criador, o Grande Juiz, dar a sentença pela conduta pecaminosa dos três personagens.
Podemos até inferir que o primeiro comportamento pecaminoso apresentado pelo ser humano imediatamente a queda foi a conduta da negação da responsabilidade.
Responsabilidade que evita a mentira em outras tantas ocasiões humanas, no princípio de que um abismo chama outro abismo, tal qual o exemplo de Caim.
Não assumir a responsabilidade por seus atos é uma debilidade de caráter e que em última instância afeta muito mais ao autor, apesar de produzir danos em outros, até irreversíveis.
A cultura brasileira evidencia o problema da responsabilização. Não é de hoje que as pessoas procuram as benesses dos empregos, mas não a responsabilidade pelo serviço. Em outras palavras, todo mundo quer emprego, mas ninguém quer trabalho. As autoridades querem os bônus do cargo, mas não querem os ônus das decisões tomadas. Insistem em colocar a culpa nos subalternos. Por isso, tem-se o ditado de que “a corda sempre arrebenta no lado mais fraco”. Os motoristas querem possuir veículos, mas não querem assumir a responsabilidade pela segurança do trânsito (dever de todos). É a cultura do sempre se dar bem, pouco importando quem pagará a conta. Afinal, a culpa não pode ser minha e sempre há uma infinidade de desculpas.
O problema da negação da responsabilidade é que ela nega ou mascara a verdade. A pessoa que assim se comporta se acovarda diante do problema e passa a carregar consigo o peso de ter que continuamente esconder o que fez ou deixou de fazer. Passa a ter que conviver com a culpa e carregá-la dentro de si. É lógico que mesmo que ela se isole, se afaste, viaje, não vai adiantar nada. O problema estará sempre ali, na mente, implacável . E a culpa irá atormentar, dia e noite, semana após semana, ano após ano, ou nos mais cauterizados, sempre que a lembrança vir à tona.
Pior ainda é enganar-se para justificar os erros. Tolice pura. A culpa continuará destruindo, enfraquecendo, enclausurando.
A solução está condicionada ao tempo de vida. Tanto do negador quanto do ofendido. Enquanto a pessoa viver, sempre poderá ter a escolha de enfrentar o problema e assumir a responsabilidade por seus atos. Quanto mais tempo durar, menos chance terá para enfrentar o problema de frente. Torna-se uma gestão de risco.
Essa decisão se torna tão mais difícil quanto maior a ofensa cometida. Se a ofensa produziu danos materiais, certamente só o pedido de perdão não será suficiente. Se ofendeu a vida, o pedido de perdão estará condicionado ao espírito do(s) ofendido(s). Sem falar que a já necessidade de pedir perdão é por si só uma grande prova.
De uma forma ou de outra, ninguém ficará impune, pois “...aquilo que o homem semear, isso também colherá” (Paulo, aos gálatas).

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